quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Fim

Talvez eu ainda sepulte meu jovem cadáver.
Que jaz frio sobre a chuva da vida.
Talvez eu o queime, assim como o círio que leva sua fumaça aos céus.
E mesmo que minha carne já esteja podre.
A minha sombra ainda permaneça viva.
Mostrando o sonhador que fui.
Amante das aves, da terra, dos seios virgens e da carne nupcial.
E as flores brotariam na terra à cima de mim.
Provando que poderá existir beleza inclusive na morte.

Lucas Vechiato



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Terra sem lei

Já faz um tempo que meu conceito sobre a internet vem mudando. O que um dia já foi engraçado, hoje parece passar dos limites. E só em usar essa palavra (limite), já me coloco em xeque.
Já é rotina ver e fazer piadas sobre desgraças. E não estou me excluindo desse tipo de ação, não sou hipócrita. Ou talvez seja, só de estar escrevendo esse texto. Talvez o motivo desse demasiado humor nas desgraças alheias seja simplesmente o ditado ''rir pra não chorar'', em sua forma mais crua.
O que me intriga é que isso parece estar se tornado obrigatório. Qualquer catástrofe que acontece parece já ter uma piada pronta. E o pior é que as vezes rimos dessas mesmas piadas, mesmo não estando com vontade de rir. Virou rotina, é quase imperceptível, ou talvez até percebemos mas fingimos não perceber, pois, parece que qualquer demonstração de apreço pela vida humana, aos olhos da ''internet'', te faz uma pessoa fraca. E talvez inconscientemente, ficamos com medo de ficarmos excluídos dessas ''comunidades'', e compartilharmos coisas que realmente nem concordamos ou sentimos, só para nós sentirmos ''inclusos''.
A maioria das vezes eu penso em escrever minha opinião sobre algum fato que acontece, mas no mesmo momento começo a pensar nas pessoas que irão tentar provar que estou errado, com argumentos falhos, idiotas, e ai eu tenho de explicar o meu ponto de vista e por fim saio como errado, alienado e até mesmo preconceituoso, dependendo da situação. Então eu permaneço em silêncio. E isso no começo era até interessante, a diversidade de opiniões. Mas agora se tornou algo chato, a beira da imbecilidade. Pois não há mais respeito. Não existe um meio termo. Há simplesmente o, ''eu estou certo e você errado''. E ai os mesmo argumentos estúpidos, para tentarem te provar que você está errado e que se você mudou seu ponto de vista sobre as coisas, você é um hipócrita.
 Mas será que é só isso? Toda essa ascensão tecnológica, toda essa facilidade de comunicação serviu só para nós nos tornarmos mais ignorantes ainda? Será que não é mais possível levar as coisas com um pouco mais de seriedade? Eu não to falando que nós precisamos nos chocar com tudo que acontece no mundo não. Mas é tão difícil assim as vezes ficar calado se você não tem nada de interessante a acrescentar?
Esses dias vi uma notícia que realmente me fez pensar o que o ser humano leva a sério, pois a vida parece que já perdeu seu valor. Recentemente o ex-jogador e ídolo do time do Internacional, Fernandão, faleceu em uma queda de helicóptero. Em um jogo clássico entre o Internacional e o Grêmio (principal rival do clube), a torcida gremista começou a entoar cantos totalmente incompreensíveis de, ''Ohh o Fernandão morreu'', como provocação ao clube rival. E o pior, a família, esposa e filhos do ex-jogador estava no estádio. Será que é necessário ser tão cruel assim pra ser engraçado?  Então em pleno século 21, aonde até índios em aldeias isoladas no meio de florestas tem acesso a comunicação, é só isso que temos a mostrar? Que sabemos fazer piada de qualquer coisa?
Realmente está complicado expor algum tipo de opinião hoje em dia, a não ser que essa opinião seja uma forma de humor sobre alguma tragédia. Se for uma reflexão positiva sobre algum assunto, podem desistir, pois a maioria não vai nem ler.
Enfim, esse é um pensamento que eu vinha acumulando fazia algum tempo, e como todo desabafo vem através de uma ''gota d'água'', esse não foi diferente. É só uma pena que quase ninguém vai ler isso, talvez por preguiça, falta de interesse ou simplesmente por não ser nada engraçado.

Lucas Vechiato