quinta-feira, 25 de julho de 2013

Podia ver a virilidade do homem ao tentar cortejar a moça.
Também via a confusa hipocrisia da mesma, ao aceitar ou não aceitar.
Podia ver pessoas tragando a morte em um cigarro e não se importando.
O que me fazia pensar - Para que viver oitenta anos se não faz o que quer?
Via as risadas perdidas no segundo, num lapso único do tempo que já passou.
E a criança mendiga com fome, pedindo uma moeda e recebendo desprezo.
E o 'desprezador' gastando a moeda em mais uma dose de whiskey.
Podia ver a senhora tentando atravessar a rua e o carro estacionado na faixa de pedestre.
E o dono do carro do outro lado da rua, pagando para receber um boquete no bordel.
Via as moscas zanzando de copo em copo, lixo em lixo, bosta em bosta, e percebi que elas não se diferenciavam do homem, da moça, da criança, dos fumantes, dos gargalhantes, do alcoólatra, da senhora, do boqueteiro e nem de quem vos escreve.

Lucas Vechiato